terça-feira, 22 de março de 2011

Incinerando

Eu olho pela janela e tudo que eu vejo é cidade. Cidade. Cidade. Luz. Farol. Nenhum pôr-do-sol, nenhum coração batendo... só eu, o meu - e nós e a cidade. E aquele vazio só se enche enquanto eu busco e olho, e peço: cidade! Por favor, um coração que seja, um sorriso ou lágrima que seja... qualquer sinal de humanidade. Sem carros. Sem luzes. Sem muros ou cruzes. Só eu e o que há de ser vivo ainda nessa nossa realidade. Eu e o que me resta de esperança e paixão e sentimento - eu e tudo. Eu e um coração que deve - tem que - estar perdido por aí, em meio a cidade, embaixo da roda de um carro, nos braços de uma máquina, incinerando pela chaminé de uma destas fábricas, perdendo sua essência pra enxurradas trágicas. Cidade, cidade. Pedir-te sumiço seria muita audácia da minha parte? Nem faça isso, só te peço uma mísera coisa perante tua ganância. Uma coisa insignificante pra ti, então: um só coração. Um que seja. Unzinho só. A escuridão, então, deveras falta. E isso é só sobre essas duas bombas cardíacas separadas por uma construção.

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