domingo, 27 de janeiro de 2013

pelas pequenas explosões do corpo

a gente morre a cada instante, a cada momento. cada suspiro que damos é um passo mais próximo do fim. morremos ao ouvir um não, morremos por uma decepção, morremos ao ver uma criança chorar,  morremos ao ver uma mãe perder seu filho mas principalmente morremos por ver que os outros morrem - e além das nossas formas pequenas de morrer, se vão pra valer.

meu coração bate numa marcha que não faz jus ao carnaval que se aproxima, não faz jus a última festa que eu fui, não faz juz ao último olhar que apreciei. bate num ritmo que as paradas de sucesso desconhecem, que o cotidiano ignora e a gente esquece que acontece. essa marcha abunda os ouvidos e demora um tempo para processarmos o que ela anuncia: um nó na garganta, os olhos pesados, um choque capaz de nos deixar estáticos quando o que queríamos era gritar pelo mundo.

uma sensação completa de incapacidade, indiferença às trivilidades, de pequenez e fragilidade. nas pequenas explosões que nos preenchem o corpo, nos fazendo morrer um pouquinho a cada instante, deixamos queimar tolices, futilidades, nos lembramos do valor da cumplicidade, do companheirismo, da convivência e da simplicidade. agradecemos por estar exatamente onde estamos.

pelas pequenas explosões do corpo, descobrimos o mundo. mas também aprendemos a deixá-lo.

às vítimas da tragédia aqui em Santa Maria, apenas espero que, anterior ao horror vivenciado, tenham vivido suas vidas com muita beleza. e que saibam que não importa quem sejam, dimensionaram pequenas explosões em um sentimento: morremos todos. mas agora, nos reconstruíremos para a vida. aos familiares e amigos, toda a força desse mundo, e que saibam encontrar um caminho de volta e conforto em seus corações.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

fôlego (apenas respire)

O caminho é tão curto e isso me parece tão distante... Dois ou dez passos do parque, meu coração louco pedindo verde e vento frio no rosto. As mãos sempre tão quentes desejosas de acharem recanto mas o coração é tirano e odeia as palavras, e eu que as amo tanto o que faço? Queria te dizer tantas coisas, viajar em cada capilar das tuas íris e poder compartilhar sorriso sem perigo, mas esse coração louco e insano me apreende as palavras e aí quedamos num mar de imprecisão e confusão. Cabeça trabalha feito louca, mas o coração cansa... Tum. Tum. Tum. Chamada não atendida, aperto no coração? Se ao menos ouvisse esse sonzinho, já me sentiria próxima o bastante... Não sei, palavras vão dilacerando, coração trancafiando letras. Talvez anúncio de uma verborragia escaldante. Prepara teus ouvidos, mas principalmente tuas íris: os olhos ficam felizes quando escutam.

domingo, 20 de janeiro de 2013

me aventurar na bad trip do teu olho

oi, menino meu.

só vim aqui pra dizer que tô com saudades. eu sei que a gente se vê seguido, que nossas literaturas nos encontram e que o lobo da estepe sempre nos faz lembrar um do outro com um sorriso amargo. é bom te encontrar assim, de vez em quando... isso faz com que a gente não enjoe um do outro e não se afaste por bobeira alguma. mas eu sou boba sim, moreno, e não tenho vergonha de admitir isso. antes, meu coração era uma flor verde e fechada, numa birra sem fim pra se abrir. passou milhões de primaveras, não faltou chuva, cuidado, nem amor. mas minha bomba flórea insistia em não se abrir. agora depois de toda essa distância e de todo esse limbo de rancor e fingimento, cheguei a conclusão que não tenho motivo pra esconder o que eu sinto. não sou tão orgulhosa como pensava ser. e por eu ser boba assim, não tenho medo de admitir que eu prefiro, no momento, ao menos te ter por perto, mesmo que isso custe enjoar de ti ou de mim. poder viajar no teu olho breu, tentar mergulhar naquela nulidade de expressões. mas no fim daquilo que não me diz nada, eu encontro tudo que eu preciso. sei lá, não me importa. não sei o que me espera, não sei que fim a gente vai ter [provavelmente algo só eu e você e uma conversa mucho loca]. nem me importo. vou ter que me deixar sentir assim, meio coração partido desde o princípio... ao menos teria

começo.

meio.

fim.