terça-feira, 24 de maio de 2011

Como uma sinfonia perdida

Eu sou o pesadelo daquela noite de medo
Sou a febre na noite perdida
Sou o banho que lava a agonia
Sou o ralo que leva os sonhos
Sou o pranto, o engano, o recanto
Sou teus olhos vagos que ardiam
Sou o canto e o trote manco
Sou as lágrimas que pela face caiam
Sou o coração louco e insano
que por ti ansioso batia
E a mente culposa e profana
Pela qual, em vão, fugia
Sou o vôo, o refúgio, o encanto
dos dias sonhados nas manhãs tardias
Sou o som das vozes amanhecidas
a alegria das crianças na hora da comida
sou o sonho de viver um dia
o sonho de um sonho ser.
Sou suas mãos enlaçadas em nervosismo
sou os lábios que sussurram "tudo bem"
sou um pouco de bebida e tango
e um pouco de amor também.
Ainda assim, continuo sendo
um sonhador dos tempos passados
Ainda assim continuo vendo
através dos olhos embaçados
E ainda assim, mesmo correndo
Continuo perdido, desolado
E sempre assim
Serei o sonho
Mal sonhado, todo o reino desperdiçado
o coração que se cansou, mas insiste em lutar.

Poesia premiada em 1º lugar no Concurso Literário Municipal de Santa Maria, em 09/11/11.

3x1

E somos bobos ao ponto de pensar que isso nunca vai acontecer com a gente. Claro que não, bem capaz. E hoje aqui estamos nós segurando o peito dolorido que bate por um alguém que chora por ela. Que chora por ela que não está nem aí, que chora por ela que está mais ocupada tentando organizar seus pensamentos insanos, tentando se firmar nos seus méritos, tentando encontrar um motivo pra viver enquanto tu estás ali, entregue, sorrindo, focando os olhos cheios de alegria sob o motivo do teu coração partido e ele não sabe nada a não ser sorrir e te contar coisas banais do dia-a-dia, enquanto tens na verdade os olhos deslocados ao encontro dela. E ela mesma que te faz sorrir, que te faz se encontrar. Ela mesma que te mostrou o caminho, te apontou a saída do labirinto, e ela mesma que o faz com segundas intenções, e ela que só finge, finge, finge, e no fingimento se faz intensa e insubstituível e então desaparece. Como um tufo de pó sob a água da chuva, desaparece, se esvai. E nisso ele a busca, e tu buscas a ela, e perdidos, desolados, se afastam - e por causa dela, não tornam a se encontrar ou sorrir. Nem mesmo contos banais. O fim, nem tu, nem ele... Nenhum saberá.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Ocul(t)ar

Meus olhos precocemente desfoacos pelo tempo te enxergam com dor e lágrima, porque tu estás aí ferido e quieto, sofrendo, sangrando, suando em silêncio todas as tuas aflições. Fazendo longas ligações para a secretária eletrônica, deixando-se vencer por essa confusão louca, e assim eu quase não te enxergo. Os olhos meus somente doem. Poderias chegar mais perto pra eu poder te ver e poder te fazer rir? Que talvez, assim, eu consiga te dar um motivo pra sorrir. Consiga acalmar teu corpo inquieto e teu coração reprimido, e consiga também conter o meu, que bate tão dolorido vendo-te viver ferido, sendo aquilo que tu não és.

Todo. Todo dia. Meu olhar sentiu tua falta.
O que os olhos não vêem, falta ao coração.