sábado, 21 de novembro de 2009

Random I

Só sei que de mim não há
fronteira de que se afaste o mundo
oriente mais perto do que se sente
horizonte olhado adiante

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

O Brilho e o Riso - I

Eu esperava sua chegada sentado na sacada abraçando as pernas. A ansiedade consumia-me e eu só conseguia pensar em tê-la novamente nos braços.

Balançava-me involuntariamente enquanto ouvia ao longe a explosão de risos da televisão atrás de mim, na sala. Lembrei da última vez que a vi, lembrei da alegria que dividimos... lembrei dela sorrindo-me.

Vivi claramente aquele último momento de partida. Eu, sozinho ali com o barulho da televisão, esperava-a. E esperava demais. Me dei conta que já havia esperado outras vezes, e que ela acabaria não vindo novamente. Acabei me dando conta que era mais uma ilusão. Machucado, ainda concluí que ela não deveria nem lembrar... O seu riso devia ter dissolvido qualquer mágoa e sentimento do passado. Ela não voltaria por conta do esquecimento.

Adormeci no sofá da sala, esperando por mais um dia. Mais um dia sem ela, mais um dia de espera. Tranquei-me em meu mundo, tranquei-me em meu pensamento e fiquei ali a sonhar, a esperar... a alimentar a doce e falsa ilusão. E, ao fim do dia, percebi mais uma vez que ela não voltaria.

Tive, então, que sair do meu casulo de proteção. Percorri os imensos corredores, desci quatro andares de escada. Vi a luz do dia invadir minha visão. Meus olhos arderam, desacostumados... E, então, a vida me sorriu novamente.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Sempre

A palavra sempre me atormentou, sempre me pôs a pensar. Sempre sempre deu esperança, e sempre soube esperar. Sempre me trouxe a mudança, me fez também sempre acreditar. Sempre, por mais que passado, pra sempre será: das memórias que guardo comigo sempre irei relembrar.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Sentido

Eu sou a música daquela noite. A angustia das palavras proferidas pelo vocalista, a tensão dos movimentos sobre o microfone. Sou a garganta em atrito, a voz ferida, as mágoas amanhecidas.

Sou aquela noite que passou. Sou as lágrimas e sou os corações. Guardo comigo os sorrisos - fossem os falsos ou os proibidos -, embora imune de todos aqueles sentimentos eu estivesse.

Estava, de fato, por todos eles. Estava estática, parada, mas mesmo assim elétrica. Eu podia sentir a adrenalina consumir ao pouco meu fôlego. Eu podia, de repente, sentir tudo ao meu redor facilmente: sem nenhuma droga, sem nenhum esforço. Apenas com os sentidos.

Meus ouvidos permaneciam atentos aos sonidos e as movimentações, minha visão era estática e conservada sobre rostos e expressões. Meu paladar era amargo, era ansioso, apelativo. Minhas mãos apertavam-se nervosas. Instigavam, agoniavam. E o cheiro que eu sentia era puro oxigênio. Puro sinal de vitalidade, porque ali estava a prova mais maravilhosa de todas: o cheiro. O oxigênio que eu estava respirando e que me deixava viva. E todas as outras coisas - as cores, os sons, os movimentos - me faziam permanecer viva. Faziam-me querer viver.

E embora eu tenha sido a canção triste, os gritos e a ância fui também a explosão, a ira, fui finalmente minha própria vida. Talvez senso e sentido não houvesse naquilo, mas de alguma forma havia sentido sim. E como havia sentido...

sexta-feira, 5 de junho de 2009

1º Ato - A descida

Observe, por favor: olhe onde eu realmente estava. Inacreditável, eu sei. Mas ali, parada ao primeiro degrau de descida da enorme escada eu estava.

Olhei a baixo e vi o burburinho aumentar. As conversas correram num sussurro perigoso por todo o salão. As moças bonitas, cheias de cobiças apertaram as mãos. Rezavam para que eu caísse, logo ali naquele imundo chão.

Sentei-me no degrau. Escutei um lamento falso vindo de todas as gargantas. O burburinho cessou atordoado, mas logo recomeçado, voltou-me atordoar.

Levei a mão aos cabelos, desfiz meu penteado. Tirei do cabelo preso a presilha e balancei os cabelos sobre os ombros. O burburinho voltou a cessar.

Imagine o que não pensaram e conspiraram. Quão louca era a pobre menina daquela riquíssima corte? Quão louca era aquela que sempre tão bem portada e boa moça pareceu ser?

Pois aí observas. De nada eles conheciam-me. De nada me poderiam julgar. Porém mesmo assim o faziam, burburinhavam... As moças cobiçosas logo se alegraram ao ver minha vergonhosa situação diante de tal sociedade. Mas vergonha nenhuma eu possuía, pelo contrário, o orgulho me consumia naquele momento inesperado.

Desci as mangas compridas do vestido e o abaixei aos poucos. Restou-me o traje de baixo, a fina casca por assim dizer. E dessa forma, quase que solta, mas não totalmente a vontade, eu me pus finalmente a descer as escadas, um pouco mais calma.

Queria ter eu chegado assim, como eu mesma era, finalmente ao fim.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

O Sonho - I

Árvores.
Gramado muito verde.
Pasto, vacas e bezerros.
Um gato, um mio distante.
Os pássaros. Um canto agonizante.

A fuga.
Os pés.
A correnteza do rio das águas escuras.
O sol forte no rosto. A visão amarelada.
As pálpebras contraídas.
Um grito, um baque, um ruído.

Naquela noite sonhei com dinossauros.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

(Houve) um poema

Pois há um amor, um fascínio, um certo carinho desconhecido pelas entrelinhas de um poema que, por hora, jaz guardado a gaveta.

Há muito tempo está ali. As palavras cravadas, o papel já amarelado. Contudo os sentimentos nele escritos perduram pelos anos e por todo o tempo que o houve, pois dele jamais esqueci.

Não poderia de forma alguma esquecer. Lembro claramente de teus olhos que iluminavam-se, de teu sorriso tímido e, no fundo, nervoso. Lembro-me da ância que tu escondias para livrar-te, sem despedida, de mim.

Pois não aguentou. Fugiu e recomeçou. Não aguentou ver-me partir, não suportou esperar-me voltar. Talvez teu amor não foi tão grande assim, mas eu prefiro - realmente - pensar que tu foste fraco e não aguentaste ficar a buscar.

O poema continua ali, intacto, cheio. E espero poder-lhe - um dia - entregar.

sábado, 16 de maio de 2009

O café

As mãos nervosas firmes sobre a colher despejavam o pó de café no coador antigo. Ele preferia, de fato, o café antigo. A cafeteira há tempos estava esquecida no armário alto, intocável e sem uso.

A água na chaleira ferveu, ele a apanhou e despejou-a sob o pó amarronzado, observando-o borbulhar.

O frio era intenso, o vendaval não parecia diminuir. As janelas se sacudiam brutalmente, enquanto o dia permanecia escuro e nevoento. Já eram sete e meia da manhã, e nada. Nenhum sinal do sol.

Tampouco sinal dela. Serviu-se do café recém passado, pôs-se a caminhar pela pequena casa. O assoalho de madeira rangia, as cinzas da lareira encontravam-se em repouso. O vento continuava a zunir enquanto as árvores do jardim se debatiam violentamente.

Ele rumou até seu quarto, encostou-se na porta e a abriu levemente. Ela estava ali. As roupas grudadas ao corpo, úmidas. O cabelo cacheado e loiro empaçocado, esparramado pelo grosso cobertor xadrez. As pernas pálidas e longas descobertas, a respiração inteiramente nervosa e descompassada.

Fechou os olhos e agradeceu. Não tardou a voltar a rumar pela pequena casa. O soalho rangendo e o vento cantando o faziam mergulhar em nostalgia. O café já começara a esfriar, tamanho frio que fazia. Levou-o novamente aos lábios e o solveu. Amargo e frio. Ironicamente amargo e frio.

Voltou ao quarto. Tampouco sinal dela.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Sobre os doces - I

Doces. Eu gostava deles. Não porque fossem assim tão deliciosos, tão irresistíveis. Mas gostava.

Gostava, de fato, de pegar os pequenos embrulhos nas mãos, passá-los por entre os dedos, observar suas cores, suas diversas formas e sabores. E gostava de ler suas composições, de ver por que mãos haviam sido feitos. Mãos suecas, mãos uruguaias, mãos mexicanas ilegais. Mãos ricas, de edição limitada, ou mãos pobres. Com ingredientes finos, caros, ou ingredientes simples. Com embalagem feia, com embalagem bonita, embalagem preta ou embalagem colorida. Não importa. Gostava de todos os doces igualmente.

Ficava a imaginar a vida das pessoas por quem os doces passavam. As mãos que o faziam, o quão sofridas ou o quão poderosas eram. Será que não os provavam, de tão enjoados que já estavam? Será que poderiam, de fato, prová-los? Ou morreriam sem saber o gosto do sabor feito pelas suas próprias mãos?

Os colhedores de cerejas, os trituradores do cacau, será que eles alguma vez se alimentaram da grandiosidade de seu pequeno gesto diante da magnificência dos doces no geral?

Apanhei um bombom da cestinha. Desembrulhei-o, o provei.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Minhas Faltas

Eu diria: desculpa. Desculpa por não me contentar com pouco, desculpa por não sorrir de um tombo, desculpa por não ser exuberante por causa de uma piscina e um sapato novo. Desculpa. Desculpa por não poder sorrir só por conta de um 'olá', desculpa por não amar de primeira, amar meio mundo, amar todo mundo. Eu diria, desculpa.

Mas do contrário não me desculpo. Desculpa tal arrogância, tal prepotência: gostaria de poder me desculpar mas não o consigo fazer. Se o mundo lá fora já não me comporta, eu o faço e digo: desculpa, mas não me importo! Na sintonia que vivo, tais fatos simplesmente passam a limpo. Não me desculpo, eu vivo. Do meu jeito, com minhas exigências. Talvez deslocada, afastada, mas do meu jeito. Na sintonia de outros. Na profundeza de outros que eu hei de encontrar.

Desculpa. Eu diria. Mas hoje já peço perdão. E de toda tal solidão, eu vivo. E vivo. Do meu jeito, mas vivo. E vivo feliz, com o coração leve e sincero. Pecando, mas vivo.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Alive

Eu nem sei o que dizer. O vento que soa e bate violentamente nas pedras, balança, sacode as árvores só me mostra mais uma triste realidade: estou viva. O sol que queima na pele e o mar que se encontra com as rochas, torna a me afirmar: estou viva. As folhas secas que caem, as flores que renascem a cada primavera e a vida que brota da terra me alertam: estou viva. Milhões de pessoas que caminham sem rumo e direção, ao redor de todo o mundo, chorando, sorrindo, beijando, cantando, morrendo, me alertam: estou viva. A cada acidente, a cada alegria, a cada conquista, e todos os fogos de artíficio, os céus, me alertam: estou viva.

A natureza. Sou eu. Estou viva.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Sutiã 46

Eu tenho medo da madrugada gelada que me espera lá fora. Sim. Medo. Eu, uma mulher feita, formada e bem sucedida, com medo. Esparramada nos meus lençóis 180 fios de percal, numa cama king size box, com medo. Eu, com uma casa grande e bela, exuberante, com medo. Eu, com papéis me esperando em cima de uma mesa de um dos edíficios da Avenida Paulista, com medo. Eu, com 1.76, 60kg, cabelo castanho liso e longo, olhos azuis piscina e sutiã 46: com medo.

E dizer que a madrugada lá fora me amedronta. Que o barulho calmo da chuva me atormenta. Que o pio distante dos passáros me agita. Dizer que algo tão singelo é capaz de me fazer abraçar o travesseiro de penas. Dizer que o tapa-olho apeluciado não me privava de nenhum desses rivais, enquanto eu rolava de um lado para o outro, na cama, tentando me atirar no chão: em vão. A cama parecia grande de mais, imensa.

As coisas pequenas, as quais realmente importam estavam me esquivando de meu mundo pretencioso: eu tinha tudo, e assim não tinha nada. Mas que fiasco! E estou aqui agora, filosofando enquanto deveria estar dormindo. Porque afinal, dormir emagrece e também é bom para a pele. Mas não. Estou com medo. Estou sendo oprimida pela natureza! Certamente por que fui contra ela. 46 era o número do meu medo, imenso.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Poeminha do Perdão

Perdão
Díficil decisão
Se o fizesse tudo acalmaria-se, até
então,

Se eu lhe perdoasse
por ter machucado
meu coração
Você voltaria e o faria de novo?
E eu novamente? O que, perdão?

Não, acho que não
É uma palavra bonita, de fato
Mas que não combina contigo
e teus atos
Porque errôneo tu permanece
pedindo perdão,
e me esquece.

E eu em pura solidão,
com medo de ficar sem ti
em profunda depressão
acabo lhe pedindo
por perdão.

Tu vais, erra... E me pede novamente.
E eu perdoo, tomada de indecisão.
E erro, de novo, pedindo perdão.
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Esse poema é em homenagem a Elise, uma das minhas mais fiéis personagens.