É que o problema todo é não saber que nome pôr nas coisas. Aquele amor mais-que-maravilhoso, aquele sorriso mais-que-sincero, aquele pretério mais-que-perfeito. Todas aquelas coisas que passaram, que foram vividas e que agora você só guarda lembrança no peito. E o que sentimento que te preenche é tão novo e desconhecido, que você não sabe, você não tem a mínima ideia do que seja.
E isso corrói mais ainda. Machuca. Queria eu chamá-lo de indigestão cardiovascular, mas não é tão simples assim. Não tem remédio, não tem palavra amiga e nem desdém que faça sumir. É aquela dor que dói e dilacera, e só vai passar quando o acaso te fizer sorrir. Quando algum tropeço ocorrer e tu deparar-se com aquilo que buscas: que tu não sabes nem o que é.
A única solução é deixar ir, deixar passar. O remédio nem é o tempo. É a surpresa. É aquilo que te vais ocorrer naturalmente enquanto tu não tens forças pra fazê-lo ocorrer. Leva mais tempo, leva, mas um dia a vida te surpreenderás. Sempre chega o dia.
Até lá, doerá.
domingo, 29 de agosto de 2010
quinta-feira, 26 de agosto de 2010
Chuva de meteoros
Tenho um anseio que carrego comigo, e sei que a humanidade já está cheia deles, mas mesmo assim não consigo evitar. Consegui, por hora, escondê-lo bem no fundo do peito. No entanto, chegou o momento em que eu não pude evitar. Deparei-me com a capa de um jornal qualquer e só bastou passar os olhos pelas letras pretas garrafais. “CHUVA DE METEOROS” – era o que dizia.
Pra muitos isso talvez não viesse a significar nada, para alguns, talvez remetesse ao medo daquilo que é incerto. As pessoas têm medo do que é incerto. E para os admiradores e curiosos, aquela era a hora de correr e fazer de tudo para poder ver o magnífico acontecimento.
Pois o que se remeteu a mim não foi nenhuma das alternativas acima. Primeiro, porque onde moro, não seria possível ver. Segundo, porque as letras garrafais tinham significado além do literal. Por mais vontade que tivesse eu de ver, não era isso que mudaria minha percepção. Eu queria mesmo era entender.
E eu tentei. Eu tentei entender as pessoas. É uma prática viciante, sabe. Tentar. E ver o quanto é difícil é nada mais que estímulo para continuar. Quando finalmente achei que entendia, isso só me faz perceber a realidade de que eu nunca viria a entender por completo.
E justamente por isso, entre outros, é que as pessoas são tão interessantes. Mesmo as mais medíocres, mesmo aquelas que ignoram os meteoros: elas são interessantes por agirem assim. Todas me atraem num jeito desigual. E, além disso, carrego a curiosidade de que, sim, estranhamente, algumas pessoas eu parcialmente entendo.
Não consigo acreditar que sejam de fato pessoas. Não sei ao certo e é quase certo que nunca saberei. Mas eu gosto de chamá-las de meteoros, cometas, asteróides, estrelas. Eu gosto de acreditar que elas realmente sejam frutos do espaço cósmico, e isso não quer dizer que eu seja adepta da Panspermia. Ainda assim, gosto de acreditar que essas pessoas tão compreensivas sejam astros.
Astros que vem ao nosso mundo para nos fazerem tentar entender. Que nos instigam a estudá-los, observá-los, descobri-los e pôr-lhes nomes. Que fazem sentirmo-nos tão pequenos e redutíveis ao que cada um de nós chama de “meu mundo”.
Afinal, não é assim mesmo que a gente se sente? A vida nunca foi explicada. Ninguém sabe ao certo o que é. Mas todo mundo sabe que quando uma dessas nasce, é pra valer. Uma criança, um pequeno ser. E o que é que a gente faz? Dá-lhes nomes, dá-lhes olhares. Alguns se encantam por elas e outros sentem medo. Temor. Talvez haja quem não sente nada. Mas o destino delas é crescer, e a sociedade as observa, as estuda. Com o tempo, se permite-se, as descobre.
E sempre há aquelas que não se conhece. Sempre há uma infinidade para os sentimentos e pensamentos que eles guardam dentro de si. Sempre há aquelas que você nunca vai entender, que nunca vão deixar-se descobrir. Que vão fechar-se no próprio mundo e viver. Viver só o que lhes interessa e nada além.
É por isso que eu continuo chamando-lhes meteoros, cometas, estrelas e asteróides. É por isso que tenho esse anseio carregado dentro de mim. O que eu espero é pelos meteoros que venham chover aqui. Talvez eles caiam e, desprotegidos, deixem-se descobri-los por mim. Que sou, tão lastimosamente, sua mera imagem e semelhança.
Pra muitos isso talvez não viesse a significar nada, para alguns, talvez remetesse ao medo daquilo que é incerto. As pessoas têm medo do que é incerto. E para os admiradores e curiosos, aquela era a hora de correr e fazer de tudo para poder ver o magnífico acontecimento.
Pois o que se remeteu a mim não foi nenhuma das alternativas acima. Primeiro, porque onde moro, não seria possível ver. Segundo, porque as letras garrafais tinham significado além do literal. Por mais vontade que tivesse eu de ver, não era isso que mudaria minha percepção. Eu queria mesmo era entender.
E eu tentei. Eu tentei entender as pessoas. É uma prática viciante, sabe. Tentar. E ver o quanto é difícil é nada mais que estímulo para continuar. Quando finalmente achei que entendia, isso só me faz perceber a realidade de que eu nunca viria a entender por completo.
E justamente por isso, entre outros, é que as pessoas são tão interessantes. Mesmo as mais medíocres, mesmo aquelas que ignoram os meteoros: elas são interessantes por agirem assim. Todas me atraem num jeito desigual. E, além disso, carrego a curiosidade de que, sim, estranhamente, algumas pessoas eu parcialmente entendo.
Não consigo acreditar que sejam de fato pessoas. Não sei ao certo e é quase certo que nunca saberei. Mas eu gosto de chamá-las de meteoros, cometas, asteróides, estrelas. Eu gosto de acreditar que elas realmente sejam frutos do espaço cósmico, e isso não quer dizer que eu seja adepta da Panspermia. Ainda assim, gosto de acreditar que essas pessoas tão compreensivas sejam astros.
Astros que vem ao nosso mundo para nos fazerem tentar entender. Que nos instigam a estudá-los, observá-los, descobri-los e pôr-lhes nomes. Que fazem sentirmo-nos tão pequenos e redutíveis ao que cada um de nós chama de “meu mundo”.
Afinal, não é assim mesmo que a gente se sente? A vida nunca foi explicada. Ninguém sabe ao certo o que é. Mas todo mundo sabe que quando uma dessas nasce, é pra valer. Uma criança, um pequeno ser. E o que é que a gente faz? Dá-lhes nomes, dá-lhes olhares. Alguns se encantam por elas e outros sentem medo. Temor. Talvez haja quem não sente nada. Mas o destino delas é crescer, e a sociedade as observa, as estuda. Com o tempo, se permite-se, as descobre.
E sempre há aquelas que não se conhece. Sempre há uma infinidade para os sentimentos e pensamentos que eles guardam dentro de si. Sempre há aquelas que você nunca vai entender, que nunca vão deixar-se descobrir. Que vão fechar-se no próprio mundo e viver. Viver só o que lhes interessa e nada além.
É por isso que eu continuo chamando-lhes meteoros, cometas, estrelas e asteróides. É por isso que tenho esse anseio carregado dentro de mim. O que eu espero é pelos meteoros que venham chover aqui. Talvez eles caiam e, desprotegidos, deixem-se descobri-los por mim. Que sou, tão lastimosamente, sua mera imagem e semelhança.
segunda-feira, 23 de agosto de 2010
Os olhos de vidro
Deparei-me com uma frase de Leonardo da Vinci por pura casualidade. Disse que "Os olhos são as janelas da alma e o espelho do mundo".
Entre olhos, espelhos e janelas, há fatores que os diferem minuciosamente. Os olhos não mudaram com o passar dos anos. Os espelhos são espelhos. Um vidro de reflexo que só difere-se dos outros por acabamento ou modelo, mas cuja essência permanece igual. Já as janelas, bem, as janelas de fato mudaram.
Foram já amadeiradas, envidraçadas, possuidoras de vitrais e pinturas, onde cada época e cada arquitetura as diferiam. Janelas estas que serviam para iluminar, proteger, deixar-se enxergar o que existia por fora das quatro paredes.
Casa era sinônimo de tranqüilidade, calor para o coração, descanso pro corpo. Era lugar para sentar à frente, ver as crianças brincarem nas ruas ou os cachorros correrem pelo jardim. Com o passar dos tempos, foi ficando cada vez mais fechada. Assim como seus moradores, cada vez mais inseguros e herméticos para um mundo que ainda tinha muito a ser descoberto.
A violência aumentou, precisava-se de segurança. Ergueram-se muros, ergueram-se grades. Os odores da poluição ultrapassaram os níveis normais. A jornada de trabalho ocupa mais horas durante o dia. Há necessidade de violar-se cada vez mais quando se está em casa.
Hoje, as janelas são vedadas, à prova de som, de vento, de pó. As venezianas, super-lacradas para que proporcionem um verdadeiro blackout no ambiente. Promessas comerciais de total paz e silêncio por pouco mais de duzentos reais.
Fechar-se sozinho, deitar-se no escuro, dormir e não querem ver nem ouvir o mundo ao nosso redor só me mostra o quanto a humanidade realmente mudou. Mas a realidade é que nada nos protege de uma vida sem sentido.
Não consigo ver vida nessa acomodação. Chega sim uma hora em que todo mundo cansa, mas poxa, o resto do tempo é viver! Eu, ao menos, não gostaria desse cárcere. Janelas bem abertas, vento e sol são presentes na nossa vida e estão aí para serem aproveitados, e não desprezados com engenhocas inventadas pelo homem.
Só sei que meus olhos estarão bem abertos. Mesmo quando dormem, mesmo quando cansam. Fechá-los para a vida não me encanta nem um pouco. O mesmo das janelas.
Entre olhos, espelhos e janelas, há fatores que os diferem minuciosamente. Os olhos não mudaram com o passar dos anos. Os espelhos são espelhos. Um vidro de reflexo que só difere-se dos outros por acabamento ou modelo, mas cuja essência permanece igual. Já as janelas, bem, as janelas de fato mudaram.
Foram já amadeiradas, envidraçadas, possuidoras de vitrais e pinturas, onde cada época e cada arquitetura as diferiam. Janelas estas que serviam para iluminar, proteger, deixar-se enxergar o que existia por fora das quatro paredes.
Casa era sinônimo de tranqüilidade, calor para o coração, descanso pro corpo. Era lugar para sentar à frente, ver as crianças brincarem nas ruas ou os cachorros correrem pelo jardim. Com o passar dos tempos, foi ficando cada vez mais fechada. Assim como seus moradores, cada vez mais inseguros e herméticos para um mundo que ainda tinha muito a ser descoberto.
A violência aumentou, precisava-se de segurança. Ergueram-se muros, ergueram-se grades. Os odores da poluição ultrapassaram os níveis normais. A jornada de trabalho ocupa mais horas durante o dia. Há necessidade de violar-se cada vez mais quando se está em casa.
Hoje, as janelas são vedadas, à prova de som, de vento, de pó. As venezianas, super-lacradas para que proporcionem um verdadeiro blackout no ambiente. Promessas comerciais de total paz e silêncio por pouco mais de duzentos reais.
Fechar-se sozinho, deitar-se no escuro, dormir e não querem ver nem ouvir o mundo ao nosso redor só me mostra o quanto a humanidade realmente mudou. Mas a realidade é que nada nos protege de uma vida sem sentido.
Não consigo ver vida nessa acomodação. Chega sim uma hora em que todo mundo cansa, mas poxa, o resto do tempo é viver! Eu, ao menos, não gostaria desse cárcere. Janelas bem abertas, vento e sol são presentes na nossa vida e estão aí para serem aproveitados, e não desprezados com engenhocas inventadas pelo homem.
Só sei que meus olhos estarão bem abertos. Mesmo quando dormem, mesmo quando cansam. Fechá-los para a vida não me encanta nem um pouco. O mesmo das janelas.
sexta-feira, 20 de agosto de 2010
Sobre passos e dores
E meus pés doíam. Eu sentia meu calcanhar arranhado esfolar na costura do All Star velho que eu teimava em não me desfazer. E mesmo com os pés doloridos, eu andava e andava sem parar. Mas eu não conseguia ver, não conseguia ouvir, não podia notar.
Até que mediante os passos apressados, percebo passar sempre pelo mesmo local e posso escutar um barulho diferente. Fitas de papel presas a um ar condicionado, debatendo-se umas contra as outras. Meus olhos desfocados focam-se, já não sinto mais a dor em meus pés. Posso ouvir calmamente cada passo dado na larga rua, olho para um sapato e consigo ouvir seu próprio ruído. E meus lábios, como sempre, mexem-se numa melodia Beatleniana qualquer enquanto eu sinto aquela enorme quantidade de informações me preencher aos poucos.
Ah, mais estranha do que quando falo sozinha na rua. Mais estranha do que falar sozinha na rua e carregar as mãos sempre bem fechadas dentro do bolso, mais estranha do que usar um calçado que sempre machuca.
Mas vamos esquecer de tudo que foi dito anteriormente. Não importa a qualidade e a dor da caminhada. O que importa é a caminhada, não?
Até que mediante os passos apressados, percebo passar sempre pelo mesmo local e posso escutar um barulho diferente. Fitas de papel presas a um ar condicionado, debatendo-se umas contra as outras. Meus olhos desfocados focam-se, já não sinto mais a dor em meus pés. Posso ouvir calmamente cada passo dado na larga rua, olho para um sapato e consigo ouvir seu próprio ruído. E meus lábios, como sempre, mexem-se numa melodia Beatleniana qualquer enquanto eu sinto aquela enorme quantidade de informações me preencher aos poucos.
Ah, mais estranha do que quando falo sozinha na rua. Mais estranha do que falar sozinha na rua e carregar as mãos sempre bem fechadas dentro do bolso, mais estranha do que usar um calçado que sempre machuca.
Mas vamos esquecer de tudo que foi dito anteriormente. Não importa a qualidade e a dor da caminhada. O que importa é a caminhada, não?
sexta-feira, 13 de agosto de 2010
Me leve
Que me leve, que me leve, já não me importo mais. Que continue fazendo com que minha cabeça percorra os mais insanos caminhos da obscuridade do meu ser, que eu continue engolindo à seco minhas agonias e que continue com o coração apertado e remoto.
Mas não me leve mal, não julgue minha expressão. Não julgue minhas palavras só por ouvi-las, tente entender que não consigo proferi-las com a mesma emoção: meu coração doentio não permite, minha razão não permite, e eu não sei, não sei de forma alguma o que fazer. Então, me lê agora: se meus olhos estão perdidos e desfocados, são sim por tua causa, ainda que não sejam por tua culpa! Só me dá uma chance, um voto de confiança, me dá segurança pra eu fazer o que devo fazer.
Um passo, quem sabe, bastasse. Não me leve daqui. Eu estou perto demais.
Mas não me leve mal, não julgue minha expressão. Não julgue minhas palavras só por ouvi-las, tente entender que não consigo proferi-las com a mesma emoção: meu coração doentio não permite, minha razão não permite, e eu não sei, não sei de forma alguma o que fazer. Então, me lê agora: se meus olhos estão perdidos e desfocados, são sim por tua causa, ainda que não sejam por tua culpa! Só me dá uma chance, um voto de confiança, me dá segurança pra eu fazer o que devo fazer.
Um passo, quem sabe, bastasse. Não me leve daqui. Eu estou perto demais.
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