E meus pés doíam. Eu sentia meu calcanhar arranhado esfolar na costura do All Star velho que eu teimava em não me desfazer. E mesmo com os pés doloridos, eu andava e andava sem parar. Mas eu não conseguia ver, não conseguia ouvir, não podia notar.
Até que mediante os passos apressados, percebo passar sempre pelo mesmo local e posso escutar um barulho diferente. Fitas de papel presas a um ar condicionado, debatendo-se umas contra as outras. Meus olhos desfocados focam-se, já não sinto mais a dor em meus pés. Posso ouvir calmamente cada passo dado na larga rua, olho para um sapato e consigo ouvir seu próprio ruído. E meus lábios, como sempre, mexem-se numa melodia Beatleniana qualquer enquanto eu sinto aquela enorme quantidade de informações me preencher aos poucos.
Ah, mais estranha do que quando falo sozinha na rua. Mais estranha do que falar sozinha na rua e carregar as mãos sempre bem fechadas dentro do bolso, mais estranha do que usar um calçado que sempre machuca.
Mas vamos esquecer de tudo que foi dito anteriormente. Não importa a qualidade e a dor da caminhada. O que importa é a caminhada, não?
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