sexta-feira, 5 de junho de 2009

1º Ato - A descida

Observe, por favor: olhe onde eu realmente estava. Inacreditável, eu sei. Mas ali, parada ao primeiro degrau de descida da enorme escada eu estava.

Olhei a baixo e vi o burburinho aumentar. As conversas correram num sussurro perigoso por todo o salão. As moças bonitas, cheias de cobiças apertaram as mãos. Rezavam para que eu caísse, logo ali naquele imundo chão.

Sentei-me no degrau. Escutei um lamento falso vindo de todas as gargantas. O burburinho cessou atordoado, mas logo recomeçado, voltou-me atordoar.

Levei a mão aos cabelos, desfiz meu penteado. Tirei do cabelo preso a presilha e balancei os cabelos sobre os ombros. O burburinho voltou a cessar.

Imagine o que não pensaram e conspiraram. Quão louca era a pobre menina daquela riquíssima corte? Quão louca era aquela que sempre tão bem portada e boa moça pareceu ser?

Pois aí observas. De nada eles conheciam-me. De nada me poderiam julgar. Porém mesmo assim o faziam, burburinhavam... As moças cobiçosas logo se alegraram ao ver minha vergonhosa situação diante de tal sociedade. Mas vergonha nenhuma eu possuía, pelo contrário, o orgulho me consumia naquele momento inesperado.

Desci as mangas compridas do vestido e o abaixei aos poucos. Restou-me o traje de baixo, a fina casca por assim dizer. E dessa forma, quase que solta, mas não totalmente a vontade, eu me pus finalmente a descer as escadas, um pouco mais calma.

Queria ter eu chegado assim, como eu mesma era, finalmente ao fim.

3 comentários:

  1. Senti um ar de dom casmurro aí. Super-cool, muito bem retratado o momento. Muito bom.

    2bj.

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  2. gente ._.
    que diferente isso que tu escreveu!
    muito bonito, diferente, interessante até o final.
    adoray gata
    :****

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  3. Gostei das construções frasais, o texto ficou belo.

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