Eu sou a música daquela noite. A angustia das palavras proferidas pelo vocalista, a tensão dos movimentos sobre o microfone. Sou a garganta em atrito, a voz ferida, as mágoas amanhecidas.
Sou aquela noite que passou. Sou as lágrimas e sou os corações. Guardo comigo os sorrisos - fossem os falsos ou os proibidos -, embora imune de todos aqueles sentimentos eu estivesse.
Estava, de fato, por todos eles. Estava estática, parada, mas mesmo assim elétrica. Eu podia sentir a adrenalina consumir ao pouco meu fôlego. Eu podia, de repente, sentir tudo ao meu redor facilmente: sem nenhuma droga, sem nenhum esforço. Apenas com os sentidos.
Meus ouvidos permaneciam atentos aos sonidos e as movimentações, minha visão era estática e conservada sobre rostos e expressões. Meu paladar era amargo, era ansioso, apelativo. Minhas mãos apertavam-se nervosas. Instigavam, agoniavam. E o cheiro que eu sentia era puro oxigênio. Puro sinal de vitalidade, porque ali estava a prova mais maravilhosa de todas: o cheiro. O oxigênio que eu estava respirando e que me deixava viva. E todas as outras coisas - as cores, os sons, os movimentos - me faziam permanecer viva. Faziam-me querer viver.
E embora eu tenha sido a canção triste, os gritos e a ância fui também a explosão, a ira, fui finalmente minha própria vida. Talvez senso e sentido não houvesse naquilo, mas de alguma forma havia sentido sim. E como havia sentido...
muito lindo esse texto, me lembra "Gitã".
ResponderExcluirtá muito bom mesmo, congratulations :D