As mãos nervosas firmes sobre a colher despejavam o pó de café no coador antigo. Ele preferia, de fato, o café antigo. A cafeteira há tempos estava esquecida no armário alto, intocável e sem uso.
A água na chaleira ferveu, ele a apanhou e despejou-a sob o pó amarronzado, observando-o borbulhar.
O frio era intenso, o vendaval não parecia diminuir. As janelas se sacudiam brutalmente, enquanto o dia permanecia escuro e nevoento. Já eram sete e meia da manhã, e nada. Nenhum sinal do sol.
Tampouco sinal dela. Serviu-se do café recém passado, pôs-se a caminhar pela pequena casa. O assoalho de madeira rangia, as cinzas da lareira encontravam-se em repouso. O vento continuava a zunir enquanto as árvores do jardim se debatiam violentamente.
Ele rumou até seu quarto, encostou-se na porta e a abriu levemente. Ela estava ali. As roupas grudadas ao corpo, úmidas. O cabelo cacheado e loiro empaçocado, esparramado pelo grosso cobertor xadrez. As pernas pálidas e longas descobertas, a respiração inteiramente nervosa e descompassada.
Fechou os olhos e agradeceu. Não tardou a voltar a rumar pela pequena casa. O soalho rangendo e o vento cantando o faziam mergulhar em nostalgia. O café já começara a esfriar, tamanho frio que fazia. Levou-o novamente aos lábios e o solveu. Amargo e frio. Ironicamente amargo e frio.
Voltou ao quarto. Tampouco sinal dela.
Ele preferia, de fato, o café antigo
ResponderExcluirachei mtttttttto legal isso :)
como o texto inteiro!
beijao cat ;@
achei tão profundo
ResponderExcluire lindo *-*
kisses