segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Câmera lenta

E com aquele sorriso do tamanho do mundo ele tentava distrair o coração louco e conter o corpo - que de tanto nervoso pulava de um lado pro outro -, fingindo que tudo estava muito bem e que aquela situação era somente embaraçosa.
Mas por trás daquelas mãos que suavam segurando a própria camisa, um coração ainda mirim batia e ameaçava-lhe arrebentar o peito. O cérebro jovem e cheio de fórmulas e vozes e ilusões tentava esquecer o discurso ensaiado. Mas ela estava ali, bem na sua frente, os cabelos bem ajeitados num coque, o rosto incomum e ao mesmo tempo tão familiar distraído. Aqueles olhos perdidos em algum pensamento que lhe punha medo por detrás do sorriso.
Ele estendeu a mão, agiu com naturalidade. Cumprimentou, ela acordou dos devaneios, deu uma risada e respondeu animada à uma conversa sem compromisso, sem noção, aquela empolgação desnecessária. Ele se pôs a falar, enquanto ela quedava em silêncio, tão ou mais distraída - indiferente? Ele tentou buscar seus olhos, mas nada encontrou. O sorriso enorme foi aos poucos se definhando, ela já ria sozinha, fitando o chão. Ele já agarrava-se a ilusão escondida a pouco dentro do peito.
Eu senti o coração dele, batendo lá, lento. Ela confusa, ela tanto-faz. Eu bebi um gole de conhaque e fiquei a pensar no tudo que se constrói e se destrói em bem menos do que cinco minutos.

Um comentário:

  1. As vezes se a gente pára pra prestar atenção - no meio da noite, quando tá tudo em silêncio - dá mesmo pra ver a vida mudando a cada segundo. A gente fica envelhencendo sem parar...

    Bonito texto.

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