E abaixo daquele telhado inclinado em diagonal, onde o sol entrava diretamente pela única janela do cômodo no entardecer, eu escutava o vinil tocar ao longe uma melodia baixa e bonita.
Tu tinhas teu corpo cansado descansado sobre a coberta grossa, enquanto eu apenas fitava fixamente o sol que se punha tão lentamente. E eu queria que tu estivesses fazendo o mesmo, mas tu estavas lá deitada, sonhando, completamente mergulhada na música que te prometia coisas que eu não ia cumprir.
E tu acreditavas que tudo aquilo um dia seria real, que tudo seria como na canção: mil flores, dolores e corazóns. Mas não, não, não. Sai daí e vem fitar o sol, ou me pega pelos ombros e me expulsa porta a fora, me faz descer as escadas determinado, me faz sentir nojo e ter consciência do que eu faço.
Não era mesmo minha intenção, mas eu vou ter que te dizer isso: não será o que tu esperas. Nem é o que tu achas que é.
Nunca existiu. Só foi uma confusão. E nem adianta vir com teu coração ferido pra perto de mim, não adianta pô-lo nas mãos. Eu, mais do qualquer, não deixaria que tu foste somente pra mim. Me deixa, te deixo. Vai ser o que tu podes livremente ser.
Gostei dos contos. Seus personagens, geralmente, parecem ser atormentados, não sei se é a melhor palavra, como estivessem deslocados, acho que a definição melhorou.
ResponderExcluirFaz belas construções psicológicas em poucas linhas.
Parabéns, ótimo trabalho!
O texto é um conto ou uma crônica?
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