sábado, 2 de outubro de 2010

Celeste

"Que está no espaço ou nele aparece"

Ah, então era assim que tu eras. Tu, tu mesmo que está aí parado feito um tolo nos muros deste velho mausoléu. Tu que vestes desta camisa vermelha um manto de proteção, uma barreira irredutível ao ver de outras pessoas. Mas comigo não iria adiantar não, eu via como eras tu.

E tu era indecifrável. Ah, eu gostava de me perder nos olhos escuros e comuns a imaginar coisas ao teu respeito. Era um desafio tentar saber das coisas quando, na verdade, eu nada sabia e podia saber sobre ti. Vê que bobo? E continuou lá, com os braços flácidos grudados ao peito, com pinta de encrenqueiro, só pra ninguém te reconhecer.

E no meio ao teu falso mistério torturante, eu pude - ah, como eu pude! - ver alguns dos teus aspectos. Eu pude ver nos teus olhos comuns o quanto que, na verdade, estavas tão entediado com tudo aquilo. O quanto tu não aguentavas nem a ti mesmo, o quanto precisava, na verdade, descruzar os braços, desgrudar as costas do muro de limo e sair correndo pela rua deserta.

Ah, pra mim você era um cometa perdido. Um meteoro devastado. Veio parar aqui e não encontrou ninguém, não se descobriu por ninguém, apenas caiu. Solito consigo. Mas quer o meu conselho? Sai mesmo desse muro, sai daí e parte pra briga: seja lá como tu pretendes agir, vá e faça. Porque te tornarás por aquilo que fizeres, então apenas faça.

Eu te admiro de algum jeito por tu ser desastrosamente assim, um meteoro deprimido, sem rumo definido, que caiu do céu pra mim.

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