sexta-feira, 15 de novembro de 2013

decompõe-se a composição dentro de mim


meu coração é nascente de acordes
melodias e versos que compõem uma canção
meu bem, tenho ouvido-a tanto,
mas hoje ela já é desolação

aos poucos esses versos foram arrumando-se
encaixando-se ao descompassar do coração meu
e se às vezes encontro um ritmo
hoje, é com pesar, que já não o tenho...

a saudade é um veneno
que desafina meus instrumentos
embarga minha voz
e faz das lembranças nós

meu samba aos poucos morre
e tudo isso de repente vira nada
- quiça, alguma memória -
e agora o único que me resta é um blues choroso.

sábado, 26 de outubro de 2013

pingos

chu
va
que
cai

chu
va
que
mo
lha

chu
va
que
faz
cres
cer

chu
va
que
bro
ta

chu
va
que
amo

que
en
g'a
na

e
vai
em
bo
ra

domingo, 13 de outubro de 2013

aleatório

Domingos cor de violeta. Eu seguro suas mãos e mergulho em seus olhos. E um mar meio encoberto derrama-se em maré por cima de mim... As crianças que correm nos parques estão todas escondidas. Os pássaros não desistem de cantar... mas as flores da primavera antecipam outono. E as cores de um dia indeciso vão-me invadindo. Mas no fundo, tudo é violeta. E a verdade me inebria com sua humildade. Meu sorriso é largo em gratidão. Notas de piano ecoam em meus ouvidos numa memória distante, as crianças que correm nos parques se escondem dentro de mim. Sorrisos, gritos de alegria, correrias... Eu sou o esconderijo pra tudo. E vou escondo o mundo. Trancafiando a memória de tudo... e sorrio tudo que há dentro de mim. As notas de piano entoam uma canção. Meu bem, carregar o mundo é também solidão.

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

cortina do tempo

o céu, escuro, prepara-se para a chuva
e o azul aos poucos descolore-se em breu
meu peito pulsa sanguinário caminho constante
que aos poucos quagula em saudade do amor teu

e meu desejo abranda o momento
e meus ímpares olhos se fecham em resgate
e tudo que eu tenho nesse instante
é a tua lembrança - e o trovoar ressoante

a lua preenche o céu devagar
num paradoxo de nuvens que recobrem o luar
e a escuridão toma conta de mim

porque só assim - só assim! -
as memórias se aproximam do real

e só então teus olhos
- breus e meus -
caem, dando espaço à memória
que vive sempre
e nunca dorme.