segunda-feira, 15 de junho de 2009

Sempre

A palavra sempre me atormentou, sempre me pôs a pensar. Sempre sempre deu esperança, e sempre soube esperar. Sempre me trouxe a mudança, me fez também sempre acreditar. Sempre, por mais que passado, pra sempre será: das memórias que guardo comigo sempre irei relembrar.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Sentido

Eu sou a música daquela noite. A angustia das palavras proferidas pelo vocalista, a tensão dos movimentos sobre o microfone. Sou a garganta em atrito, a voz ferida, as mágoas amanhecidas.

Sou aquela noite que passou. Sou as lágrimas e sou os corações. Guardo comigo os sorrisos - fossem os falsos ou os proibidos -, embora imune de todos aqueles sentimentos eu estivesse.

Estava, de fato, por todos eles. Estava estática, parada, mas mesmo assim elétrica. Eu podia sentir a adrenalina consumir ao pouco meu fôlego. Eu podia, de repente, sentir tudo ao meu redor facilmente: sem nenhuma droga, sem nenhum esforço. Apenas com os sentidos.

Meus ouvidos permaneciam atentos aos sonidos e as movimentações, minha visão era estática e conservada sobre rostos e expressões. Meu paladar era amargo, era ansioso, apelativo. Minhas mãos apertavam-se nervosas. Instigavam, agoniavam. E o cheiro que eu sentia era puro oxigênio. Puro sinal de vitalidade, porque ali estava a prova mais maravilhosa de todas: o cheiro. O oxigênio que eu estava respirando e que me deixava viva. E todas as outras coisas - as cores, os sons, os movimentos - me faziam permanecer viva. Faziam-me querer viver.

E embora eu tenha sido a canção triste, os gritos e a ância fui também a explosão, a ira, fui finalmente minha própria vida. Talvez senso e sentido não houvesse naquilo, mas de alguma forma havia sentido sim. E como havia sentido...

sexta-feira, 5 de junho de 2009

1º Ato - A descida

Observe, por favor: olhe onde eu realmente estava. Inacreditável, eu sei. Mas ali, parada ao primeiro degrau de descida da enorme escada eu estava.

Olhei a baixo e vi o burburinho aumentar. As conversas correram num sussurro perigoso por todo o salão. As moças bonitas, cheias de cobiças apertaram as mãos. Rezavam para que eu caísse, logo ali naquele imundo chão.

Sentei-me no degrau. Escutei um lamento falso vindo de todas as gargantas. O burburinho cessou atordoado, mas logo recomeçado, voltou-me atordoar.

Levei a mão aos cabelos, desfiz meu penteado. Tirei do cabelo preso a presilha e balancei os cabelos sobre os ombros. O burburinho voltou a cessar.

Imagine o que não pensaram e conspiraram. Quão louca era a pobre menina daquela riquíssima corte? Quão louca era aquela que sempre tão bem portada e boa moça pareceu ser?

Pois aí observas. De nada eles conheciam-me. De nada me poderiam julgar. Porém mesmo assim o faziam, burburinhavam... As moças cobiçosas logo se alegraram ao ver minha vergonhosa situação diante de tal sociedade. Mas vergonha nenhuma eu possuía, pelo contrário, o orgulho me consumia naquele momento inesperado.

Desci as mangas compridas do vestido e o abaixei aos poucos. Restou-me o traje de baixo, a fina casca por assim dizer. E dessa forma, quase que solta, mas não totalmente a vontade, eu me pus finalmente a descer as escadas, um pouco mais calma.

Queria ter eu chegado assim, como eu mesma era, finalmente ao fim.