acordei num domingo diferente.
acordei num domingo, porque ao contrário de se acordar em outros dias, não acordei "naquela manhã de segunda", "às dez horas da terça" ou "ao amanhecer de quinta-feira".
acordei num domingo. diferente.
meu coração encara teus olhos com um sorriso gigantesco. de alívio.
não foi assim que eu sonhei nossa vida.
[mas a vida não permite ensaios.]
naquele sorriso tão fácil que me corroía por dentro - como posso sorrir com um sentimento desses?
mas decidi dizer pra ti que tu te fosse.
é como se meu coração tivesse sido
bombeado todo esse tempo por um gás de hélio interminável.
bastou um voo e algum descanso.
e depois desse descanso e desse voo e tanto
eu acordo - num domingo - e esvaziou.
ambos poderíamos tentar bombeá-lo novamente.
ah, mas as explosões que o amor que acaba causa...
é finalmente como se meu coração tivesse sido
bombeado todo esse tempo por um gás de hélio inflamável.
[sei que dói quando chega ao fim.]
então ainda olhando naqueles teus olhos - negro amor
de repente parece que tudo era pra ter sido assim
minha cabeça que mirabola fantasias e não imagina nenhum fim
por fim, sempre ironicamente, atinge um clímax
digno de bergman e lua cheia.
estou meio atrasada, reconheço
mas finalmente vejo nos teus olhos um brilho que desconheço
[na escuridão qualquer luz parece resposta.]
agora entendo como um coração solitário se destroça.
só não entendo como sorrio enquanto isso acontece...
simples assim: tu nunca foi meu. eu - muito menos - nunca fui tua.
não se engane com meu despreso: meu carinho é maior que qualquer coisa que alguma vez a gente pode ter.
meu carinho é enorme e eu ainda sinto vontade de te abraçar e sorrir contigo.
mas a gente nunca foi um do outro. nunca acordamos num domingo - eu sempre acordei em lençóis
e tu sempre acordou em sonho.
agora, livre pra acordar no meu domingo,
me sinto finalmente livre pra sorrir...
finalmente livre pra reconhecer que tudo isso teve fim.
[o tapete sem você voou.]
[and it's all over now, baby blue.]