Eu esperava sua chegada sentado na sacada abraçando as pernas. A ansiedade consumia-me e eu só conseguia pensar em tê-la novamente nos braços.
Balançava-me involuntariamente enquanto ouvia ao longe a explosão de risos da televisão atrás de mim, na sala. Lembrei da última vez que a vi, lembrei da alegria que dividimos... lembrei dela sorrindo-me.
Vivi claramente aquele último momento de partida. Eu, sozinho ali com o barulho da televisão, esperava-a. E esperava demais. Me dei conta que já havia esperado outras vezes, e que ela acabaria não vindo novamente. Acabei me dando conta que era mais uma ilusão. Machucado, ainda concluí que ela não deveria nem lembrar... O seu riso devia ter dissolvido qualquer mágoa e sentimento do passado. Ela não voltaria por conta do esquecimento.
Adormeci no sofá da sala, esperando por mais um dia. Mais um dia sem ela, mais um dia de espera. Tranquei-me em meu mundo, tranquei-me em meu pensamento e fiquei ali a sonhar, a esperar... a alimentar a doce e falsa ilusão. E, ao fim do dia, percebi mais uma vez que ela não voltaria.
Tive, então, que sair do meu casulo de proteção. Percorri os imensos corredores, desci quatro andares de escada. Vi a luz do dia invadir minha visão. Meus olhos arderam, desacostumados... E, então, a vida me sorriu novamente.